Do sonho de infância ao desafio de ficar longe dos filhos, mulher atua como motorista há mais de 10 anos

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Desde de pequena a xanxerense Ivone Varela tinha o sonho de se tornar motorista. Influenciada pelos dois irmãos mais velhos que seguiam nessa profissão, era durante os dias que os irmãos estavam em casa que essa paixão pelo volante foi aflorando na menina. Dinda, como hoje é conhecida dentro da profissão, dirige há cerca de 12 anos e diz ter amor pelo o que faz.

Dinda conta que seu maior incentivador a começar a dirigir foi seu falecido irmão, que também era motorista e perdeu a vida em um acidente de trânsito. Ademais, a tragédia não tirou do coração de Ivone a vontade de ser motorista.

“Desde pequena eu tinha essa vontade de ser motorista, ajudava meus irmãos a limpar o caminhão e quando eles faziam viagens para perto eu ia junto. Com o passar do tempo eu fui me interessando em aprender a dirigir. Aprendi a dirigir carro pequeno e depois o meu falecido irmão me ensinou a dirigir caminhão. Foi ele quem mais me incentivou a aprender a dirigir. Fui aprendendo e tendo amor pela profissão, eu achava muito bonito” conta.

A caminhoneira lembra que o início da carreira foi difícil, pois essa profissão é geralmente ocupada por homens e há poucas mulheres nesse meio. Seu primeiro emprego como motorista foi no transporte coletivo de Xanxerê. Dinda lembra que o preconceito já estava presente desde essa época.

“No começo era difícil. Quando falei para a minha mãe que ia alterar minha carteira para ser motorista ela me disse que seria difícil conseguir emprego, pois ninguém da oportunidade para mulher. Eu disse para ela que ia conseguir. Aprendi a dirigir, alterei minha carteira e antes mesmo da minha carteira chegar eu já tinha conseguido emprego de motorista da Auto Viação, para dirigir ônibus. Quando comecei a trabalhar ali as pessoas mais de idade vinham para pegar o ônibus no terminal e pediam quem era o motorista e quando eu dizia que era eu faziam uma cara de reprovação e voltavam para o banco” comenta.

Aos poucos ela foi conquistando a confiança da comunidade e trabalhou por três anos no transporte coletivo. Ainda dirigindo ônibus Dinda também trabalhou em uma empresa de turismo, mas seu amor maior era por caminhões. Dentro desse ramo, sua primeira experiência foi com um caminhão betoneira. Ela trabalhava na cidade e foi adquirindo experiência com o passar do tempo.

Após isso, há cerca de dez anos, ela e seu marido foram trabalhar na mesma empresa como motoristas. Os dois viajavam juntos, mas cada um com sua carreta. Depois de um tempo na estrada, Dinda resolveu parar de viajar por um período, ficando na cidade e acompanhando mais de perto o desenvolvimento dos filhos.

Depois do tempo parada, agora já com os quatro filhos maiores de idade, há cerca de cinco anos Dinda voltou para a estrada, sempre junto de seu marido, cada um com sua carreta. Mas, o fato dos filhos já estarem constituindo suas famílias não faz com que ela deixe de se preocupar com eles.

“Ficamos uma semana, quinze dias fora de casa. Não ficamos muito tempo longe de casa, por causa dos nossos filhos. Eles são maiores de idade, mas mesmo assim não ficamos muito tempo fora. Ai paramos uns dias em casa, fizemos manutenção no caminhão e voltamos para a estrada. O maior desafio ainda é ficar longe da família. Quando eles eram pequenos era mais difícil ainda, mas ainda é complicado, eles ainda me cobram sobre quando eu vou voltar para casa” declara.

Apesar de nunca ter se envolvido em nenhum acidente e ser uma motorista exemplar, Dinda conta que a maior barreira enfrentada por ela no dia a dia ainda é o preconceito.

“Eu fui a primeira mulher de Xanxerê a trabalhar com ônibus, mas enfrento preconceito até hoje. Tem empresas que acham que só tem homens. Às vezes eu não encontro nem banheiro feminino para eu ir. As vezes preciso me sujeitar a pedir para o meu marido ficar na porta enquanto eu tomo banho e isso causa um constrangimento. As vezes chego nos lugares que tem bastante motoristas e eles ficam olhando. Alguns admiram, mas outros ainda tem preconceito, acham que uma mulher não é capaz e ficam questionando quem arruma a lona do caminhão, por exemplo, e sou tudo eu que faço. Sempre tem alguém que ajuda, mas o motorista precisa fazer. Tem homens que apoiam, acham bonito, mas tem alguns que nem emprego não dão, que acham que a mulher não é capaz” conclui.

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