Comandos de Saúde nas Rodovias: uma década de atenção aos caminhoneiros

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“Eu estava na BR-080 e, de repente, fui parado pela polícia; nem sabia do que se tratava. Quando percebi, estava fazendo exames que há anos não tinha oportunidade de fazer. Fiz alongamentos como se fosse um atleta. Após o atendimento, descobri que estou com a pressão alta e acima do peso. A partir de agora, vou cuidar da saúde. A gente que está na estrada, dia após dia, não tem tempo de se dedicar à nossa saúde.” Esse é o depoimento de Ronaldo do Carmo de Souza, do Distrito Federal, 48 anos, dos quais 20 dedicados à vida de caminhoneiro. Ele é um dos mais de 92 mil profissionais que já passaram pelo Comandos de Saúde nas Rodovias, projeto do SEST SENAT e da PRF (Polícia Rodoviária Federal), que, em 2016, completa dez anos.

Ao longo de uma década, a parceria entre as duas instituições vem investindo em uma campanha socioeducativa que busca conscientizar e prestar serviços de saúde aos trabalhadores do transporte diretamente no seu local de trabalho: as estradas. Quatro vezes por ano, às margens das principais rodovias brasileiras, esses profissionais são abordados pelos agentes da PRF e convidados a participar da ação que inclui exames, palestras e distribuição de brindes e materiais com informações úteis sobre temas do dia a dia da profissão. Em comum, todas as ações têm o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos motoristas profissionais e, assim, contribuir para a segurança nas rodovias brasileiras.

“Essa ação tem por finalidade reforçar, junto aos profissionais do transporte, a necessidade de manutenção da saúde para evitar acidentes de trânsito, além de obter indicadores estatísticos sobre o perfil do nosso público-alvo. Também buscamos conscientizá-los sobre temas relacionados à saúde física e mental”, explica o presidente dos conselhos nacionais do SEST e do SENAT e da CNT (Confederação Nacional do Transporte), Clésio Andrade. O presidente destaca o fato de a iniciativa ser tão bem-sucedida a ponto de inspirar outros projetos da instituição. “Verificamos a necessidade de levar os atendimentos para outros pontos de atuação dos trabalhadores do setor. Daí surgiram ações como o Saúde nos Portos e o Transportando Saúde nas Cidades.”

O projeto oferece um contraponto à falta de tempo dos caminhoneiros, habituados às longas jornadas de trabalho e a correr contra o tempo para cumprir prazos. Dessa forma, reforça a importância vital de realizar exames para a detecção e a prevenção de doenças, ajudando-os a se informar para cuidar mais da saúde. Os motoristas passam por exames rápidos, como aferimento de pressão, verificação de peso, altura, massa corpórea, circunferência cervical e abdominal, teste de acuidade visual e auditiva, frequência cardíaca, glicemia e vacinação. “Às vezes, eu até tenho intenção de fazer algum exame de rotina importante, mas dificilmente temos acesso às cidades. Esse tipo de ação leva a ‘saúde’ até nós”, celebra José Ricardo Souto, 44 anos, caminhoneiro autônomo há 15 anos, em Rondonópolis (MT).

A diretora-executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart, comenta que, pelo tempo que ficam fora de casa, percorrendo rodovias do Brasil adentro, muitos profissionais revelam a indisponibilidade de procurar serviços de saúde. Por esse motivo, segundo ela, é necessário que sejam implementadas ações de intervenção direta e eficaz, por meio de estratégias educativas. “A educação em saúde é uma prática social, um processo que contribui para a formação e o desenvolvimento de consciência crítica das pessoas, acerca da condição da saúde, e estimula a busca de soluções e a organização para a saúde coletiva.” A diretora ainda salienta que as ações do Comandos de Saúde nas Rodovias não possuem caráter fiscalizatório, mas sim de sensibilização para uma vida mais saudável e um trânsito mais seguro.

O policial rodoviário federal Daniel Rezende Bonfim atua há oito anos no Comandos e considera que, ao longo desse período, a iniciativa cresceu e ganhou projeção nacional, atraindo importantes atores institucionais, como os ministérios da Justiça e da Saúde. “Sempre que o motorista conhece o evento, e vê todo o tratamento que é dispensado a ele, o profissional sai daqui com um sorriso de orelha a orelha, perguntando quando será a próxima edição.” Sobre a importância da ação para o aumento da segurança no trânsito, ele declara que é o tipo de iniciativa que consegue salvar tanto a vida desses profissionais quanto a de outras pessoas que estão envolvidas nas rodovias. “A gente minimiza os ricos. Às vezes, o profissional, por conta do diagnóstico feito aqui, precisa suspender a viagem até normalizar a saúde.


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