Conhecido pelo apelido Cabelo Batateiro, ele roda com um caminhão "arqueado"

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Um caminhoneiro tem chamado a atenção nas redes sociais. Conhecido pelo apelido Cabelo Batateiro, ele roda com um caminhão "arqueado", com frente rebaixada e traseira elevada, que chega a 1,7 m de altura. Essa e outras modificações nas configurações originais do veículo, segundo o "influenciador", foram feitas em nome da beleza e de uma suposta "estabilidade", embora sejam perigosas e ilegais. Além de caminhoneiro, Ademar Comiotto Junior, o Batateiro, é youtuber e possui uma empresa que comercializa caminhões "personalizados" em São Joao da Boa Vista (SP). Em seu canal, ele possui 750 mil inscritos e centenas de vídeos mostrando o seu dia a dia nas estradas com caminhões irregular.


Atualmente, seu instrumento de trabalho é a "Joaninha", um Scania P310 com dianteira encostada no chão e traseira elevada, como é detalhado em vídeo no canal de Claudemir Gigliotti - outro caminheiro youtuber, que conta com mais de 1 milhão de inscritos. Além das alterações na suspensão, Cabelo Batateiro retirou do utilitário os respectivos bancos, encosto de cabeça e os limpadores de para-brisa - equipamentos obrigatórios por lei.

"Sou caminhoneiro há 14 anos e sempre gostei de caminhões levantados. Além de bonitos, eles ficam mais firmes. É melhor de dirigir. Atualmente, rodo todo o Brasil com a Joaninha carregando batatas. É um caminhão que não desliza na estrada molhada", diz Comiotto Junior em entrevista para UOL Carros.

Quando perguntado a respeito da fiscalização nas estradas, ele afirma que já recebeu várias multas, mas que, por conta da fama no YouTube, teria ficado "amigo" de alguns policiais. "Hoje em dia, quando policiais rodoviários federais me veem, fazem festa! São meus amigos, sabem que o 'troço' é bonito. Mas já levei muitas multas por causa disso. É aquela coisa: se chegar multa, pago e sigo a vida. Quando apreendem o veículo, a gente acerta e é liberado", afirma. Questionados a PRF (Polícia Rodoviária Federal) sobre as alegações acima e iremos publicar o respectivo posicionamento assim que este for enviado. 


Infrações



Nossa reportagem exibiu imagens da "Joaninha" para Marco Fabrício Vieira, membro do Cetran-SP (Conselho Estadual de Trânsito de São Paulo) e autor do livro "Gestão Municipal de Trânsito". Segundo o advogado especializado em legislação de trânsito, o utilitário apresenta diversas irregularidades. "Conforme o Artigo 230 do CTB [Código de Trânsito Brasileiro], conduzir veículo com características alteradas sem autorização, como é o caso da suspensão rebaixada, constitui infração grave, com acréscimo de cinco pontos no prontuário da CNH, multa de R$ 195,23 e retenção do veículo até a respectiva regularização", informa.

Segundo o especialista, há agravantes: o veículo é conduzido sem banco do motorista, encosto de cabeça, cinto de segurança e limpador de para-brisa. "Conduzir veículo sem equipamento obrigatório ou estando ineficiente ou inoperante também constitui infração grave, com as mesmas sanções da suspensão irregular", complementa Vieira. 

Risco de decapitação



Também ouvimos Rodrigo Kleinübing, perito criminal especializado em acidentes de trânsito. De acordo com ele, as penalidades citadas acima são pequenas frente aos perigos de se conduzir um veículo com essas características nas estradas.

 Isso porque, após a alteração nas características originais, não é mais possível garantir parâmetros seguros de estabilidade e frenagem do caminhão. "Mexer no projeto original coloca em risco a segurança do caminhoneiro e de outras pessoas que transitam pelas estradas". Kleinübing alerta que os acidentes envolvendo veículos de carga com traseira elevada podem ser muito mais graves, considerando o grande número de batidas de carros de passeio atrás de caminhões nas rodovias, devido à diferença de velocidade média. "Elevar a traseira eleva o risco de o carro entrar sob o caminhão em caso de uma batida.

 Tínhamos esse problema sério no Brasil, que foi resolvido com a obrigação das placas retrorrefletoras e dos para-choques. Esse tipo de acidente é altamente letal porque, quando um carro entra embaixo do caminhão, é muito comum a decapitação dos ocupantes", alerta.

Um levantamento da CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostra que, em 2019, 25% dos acidentes em rodovias federais envolveram veículos de carga. As ocorrências com caminhões costumam ser graves, prova disso é que, naquele ano, elas resultaram em 34% de todos os óbitos registrados em estradas. O número é altíssimo, considerando que os caminhões não representam nem 4% da frota brasileira. 

Batateiro pede respeito à profissão 

Batateiro diz não apoiar o movimento recente de greve dos caminhoneiros, mas diz que é preciso valorizar a profissão.

Segundo ele, os pleitos da categoria não funcionam porque os caminhoneiros autônomos não têm condições financeiras de sustentar uma greve. "Hoje eu coloco pneus novos, troco de caminhão, faço manutenção. O YouTube me abriu muitas portas, mas o caminhoneiro autônomo não consegue fazer isso. Como ele vai ficar dias parados sem trabalhar? Somos a classe mais desvalorizada e sofrida, saímos de casa sem saber se vamos voltar. Não temos nenhum poder. Se a gente para as estradas, leva multa. Como vamos pagar? ", reclama.


Fonte: Uol

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